- Dupla luso-angolana terminou todas as sete provas do mundial de TT
- Piloto participa nas 24 H TT e estuda projetos para 2014
A dupla Rómulo Branco/João Serôdio encerrou, na Baja 500 Portalegre, um ciclo verdadeiramente extraordinário. Envolvidos pela primeira vez no circuito mundial de todo-o-terreno piloto e navegador disputaram sete provas e em todas elas levaram a sua máquina até ao final da corrida. Estrearam-se em competições disputadas no deserto e também aí foram capazes de superar todas as dificuldades. Levaram a disputa do título até à derradeira etapa da Taça do Mundo e sagraram-se vice-campeões de todo-o-Terreno na Classe T2.
O mundial de TT arrancou em Itália onde Rómulo Branco se estreou aos comandos de um Mitsubishi Pajero.
“Vamos continuar a apostar nas provas internacionais de todo-o-terreno, onde temos evoluído bastante e conseguido algumas boas prestações. No ano passado já aqui estivemos e temos por isso a vantagem de o traçado desta Italian Baja, muito típico, já não ser uma novidade para nós. Queremos aproveitar esse conhecimento para suprir a novidade de estarmos aos comandos de uma máquina diferente”, salientou na altura Rómulo Branco que viria a alcançar um magnífico 2º lugar na Baja Itália.
Seguiu-se outra estreia, a de participações em provas de deserto. No Abu Dhabi Desert Challenge o piloto, que foi sempre acompanhado de João Serôdio, utilizou então um Nissan Patrol alugado a uma equipa local e terminou numa excelente 4ª posição.
“Estou muito satisfeito com a nossa prestação. Aprendemos muito com esta prova e é magnífico levarmos daqui um resultado tão bom. Fomos muito rigorosos na forma como fomos encarando cada etapa, já que o nosso grande objetivo era terminar a corrida sem falhar nenhum controle. A ponta final da prova foi todavia dramática, com um problema elétrico na nossa máquina que lhe retirava grande parte da potência e que nos obrigou a evitar o derradeiro cordão de dunas e sofrer por isso uma penalização. Felizmente, isso não alterou a nossa posição na classificação”, salientou Rómulo Branco no final do Abu Dhabi Desert Challenge.
A segunda experiência de deserto teve lugar no Sealine Cross Country Rally uma competição disputada no Qatar onde a equipa voltou a utilizar o mesmo Nissan Patrol com que participara no Abu Dhabi Desert Challenge.
“Esta prova foi muitíssimo interessante. Aqui tivemos a verdadeira noção de navegação no deserto onde o João foi exímio. Mas, foi uma prova muito completa que nos fez crescer muitíssimo. Foi pena termos tido alguns problemas mecânicos porque poderíamos sem isso ter feito um resultado muito melhor”, explicou Rómulo Branco no final da prova.
A equipa chegou a ocupar o 3º lugar entre os T2 à partida para a derradeira etapa onde ocupava ainda um lugar no Top 10 absoluto da prova. Com os problemas mecânicos ocorridos na derradeira etapa o par Rómulo Branco/João Serôdio caiu para o 6 º lugar resultado que, mesmo assim, permitiu à equipa ascender ao segundo lugar na Taça do Mundo atrás do piloto russo Alexander Baranenko.
De regresso à Europa e de novo aos comandos do Mitsubishi Pajero inscrito pela Raliart Itália, o piloto conquistou a sua primeira vitória em provas do mundial de TT ao triunfar na Baja España Aragon que dominou de início até ao fim.
“Estou muito satisfeito. É uma vitória muito importante para o nosso projeto e representa muito para mim. Acho que fizemos tudo bem e mesmo com um furo, já nos últimos quilómetros, fomos capazes de vencer. Este é o meu primeiro triunfo numa prova da Taça do Mundo e também o de um piloto angolano. Estou muito empenhado em levar um título mundial para Angola, país onde o desporto motorizado está a renascer com muito entusiasmo”, salientou de forma naturalmente emocionada Rómulo Branco no final da prova espanhola, a mais antiga competição de todo-o-terreno que se disputa na Europa.
Um triunfo que a dupla Rómulo Branco/João Serôdio viria a repetir um mês depois na Hungria e que colocou piloto e navegador na liderança da Taça do Mundo.
“Estou muito satisfeito pelo modo como este ano as coisas nos têm estado a correr, em particular nas provas tipo baja. São de facto corridas que me agradam bastante onde me sinto muito à vontade e onde o Mitsubishi Pajero tem tido um comportamento exemplar. Claro que gostaria muito de acrescentar ainda mais um triunfo e ampliar a vantagem na Taça do Mundo mas, o mais importante é não cometer erros e não fazer nada que nos possa levar à desistência. Temos de ser muito rigorosos na abordagem a cada troço e na gestão da mecânica tendo em conta que estamos a pilotar uma máquina próxima dos carros de série”, referia Rómulo Branco fazendo um balanço da sua participação na Taça do Mundo e preparando a deslocação à Polónia que teve lugar 15 dias depois.
Infelizmente, na Baja da Polónia, quando o piloto apostava em reforçar a liderança, problemas mecânicos obrigaram-no a arrastar-se até ao final da prova tentando minimizar as percas. Todavia, divergências na interpretação dos regulamentos entre a direção da prova e o colégio de comissários, levou a que Rómulo Branco não pontuasse na prova polaca e, com isso, partisse para Portalegre em desvantagem face a Alexander Baranenko que viria a conquistar o título.
“Estou naturalmente muito desapontado. Tivemos um grande infortúnio no prólogo, mas não baixámos os braços e lutámos muito por minimizar o prejuízo. Para orientar a nossa corrida, face aos problemas mecânicos que nos estavam a afetar e porque tínhamos algumas dúvidas a respeito do regulamento, fomos junto da direção da prova que nos esclareceu. Fizemos tudo conforme a direção nos indicou e, por isso, foi com naturalidade que vimos o nosso nome na ordem de partida para a derradeira etapa que cumprimos com as devidas cautelas. Parámos a meio do troço para aferir o nível de óleo do motor e com o nosso Mitsubishi em versão atmosférica rolámos cautelosamente até ao fim. Esta decisão do colégio de comissários é muito penalizadora para nós e até bastante injusta. A juntar a tudo isto surge ainda a anulação do Rali dos Faraós onde poderíamos recuperar os pontos aqui perdidos. Assim, a decisão final terá lugar em Portalegre onde acreditamos poder ainda inverter esta situação”, exprimiu Rómulo Branco, com natural amargura, no desfecho da Baja da Polónia.
Se o encerramento da temporada estava agendado para Portalegre, antes da prova portuguesa a Taça do Mundo deveria ter ido ainda a África para a realização, no Egipto, do Rallye dos Faraós. Todavia, a instabilidade política e social no país levaram a organização da prova a cancelar o evento. A mítica prova portuguesa passava a ser a derradeira hipótese de a dupla luso-angolana reassumir a liderança da Taça do Mundo e conquistar o título mundial. Teria que, para isso, lutar pela vitória na prova e ver mais três equipas colocarem-se à frente do piloto russo na classificação final T2.
A primeira boa indicação dada pela prova portuguesa, organizada pelo Automóvel Clube de Portugal, teve a ver com a lista de inscritos onde se apresentaram nada menos que uma dúzia de equipas na Classe T2, a maior participação de entre todas as provas de 2013.
“Estou muito motivado para esta derradeira prova da Taça do Mundo. Tem sido uma temporada fantástica embora com alguns percalços. O facto de a luta pelo título ter lugar em Portugal é claramente uma mais-valia para nós, mas sei que vou ter que lutar muito e ser muito rigoroso para conseguir chegar à vitória entre os T2, até porque são mais de uma dezena de equipas que estão inscritas e todas elas com muita capacidade de fazer um bom resultado. Inclusive na prova anterior do campeonato português foi um T2 que ficou em 2º lugar da classificação geral. Gostava de ter chegado até aqui noutra posição, o que teria acontecido não fora a absoluta injustiça que ocorreu na Polónia depois de termos cumprido na íntegra as indicações dadas pela direção da prova”, salientava Rómulo Branco antes da prova portuguesa onde o piloto sabia que podia contar com o apoio dos muitos milhares de espectadores que, faça chuva ou sol, não faltam à mais importante competição de todo-o-terreno que se disputa na Europa.
“Sei que vou contar com o apoio do público português que, aos milhares, irá acompanhar como sempre a prova alentejana, é uma sensação única nas provas do mundial de TT. Tradicionalmente as provas de todo-o-terreno não têm muitos espectadores, seja porque se desenrolam em locais afastados dos grandes centros, seja porque o percurso se estende por dezenas ou centenas de quilómetros, mas em Portalegre é impressionante a quantidade de espectadores que se junta ao longo de quase todo o percurso que dá para sentir verdadeiramente quando nos estão a apoiar”.
A Baja 500 Portalegre começou com o tradicional prólogo onde o piloto luso angolano viu a sua participação penalizada pela prestação do seu adversário direto, Alexander Baranenko tendo, ainda assim, conseguido classificar-se a apenas 11s do mais rápido entre os T2. O piloto russo que arrancou para o prólogo imediatamente antes de Rómulo Branco despistou-se, danificou uma roda dianteira e furou. O Mitsbubishi Pajero da dupla Rómulo Branco/João Serôdio, viria a apanhar o Toyota da equipa russa a meio do prólogo, mas a ultrapassagem só se consumou já perto do final, na passagem de água.
No dia seguinte, cedo a dupla Rómulo Branco/João Serôdio mostrou ao que vinha e no primeiro controle de passagem ocupava a 1ª posição entre os T2 enquanto o russo Alexander Baranenko, penalizado pela sua prestação no prólogo, não ia além do 10º lugar.
Infelizmente, um acidente de percurso ao quilómetro 170 viria a comprometer a conquista do título mundial.
“Começámos a prova com um bom andamento, com um ritmo muito certinho, sem arriscar muito, mas ao quilómetro 170, aparentemente sem explicação, batemos numa árvore, o que também parece ter acontecido com outros colegas. Parecia um desvio de uma árvore muito simples, mas toquei no travão e o carro acabou por bater na árvore”, lamentava no final da corrida Rómulo Branco, que acrescentava:
“Ainda conseguimos ser puxados até ao final do percurso, recuperámos o carro e penalizámos cerca de 25 minutos. O carro ficou com alguns problemas, aqueceu muito e tivemos de seguir a um ritmo muito lento para o trazer até ao fim… E não foi, infelizmente, possível fazer mais do que isto”.
Apesar do sucedido nesta Baja 500 Portalegre, Rómulo Branco não deixou de fazer um balanço extremamente positivo da temporada 2013:
“Fizemos tudo para conseguir o título. Lutámos sempre muito, mas não foi possível lá chegar. Esta foi a primeira vez que eu e o João fizemos um campeonato mundial do princípio ao fim. Posso dizer que aprendi muito com esta experiência. Aprendemos muito nas areias no Dubai e nas do Qatar. Nas Bajas andámos sempre muito bem e fomos, por norma, os mais rápidos. Tivemos azar na Polónia por causa dos problemas mecânicos e da decisão a meu ver injusta do colégio de comissários desportivos, mas o balanço é claramente muito positivo. O título de vice-campeões não é, de facto, aquilo que chegámos a ambicionar, mas é um resultado notável e uma conquista muito importante”.
E numa época de muitos sucessos Rómulo Branco não se esquece daqueles que muito contribuíram para a sua conquista:
“Quero agradecer, em primeiro lugar, ao João que para além de ser uma magnífico companheiro foi um navegador exímio e um co-piloto brilhante e extremamente rigoroso. Também a Newspeed e o Gonçalo Ferreira foram peças fundamentais deste projeto. Em provas disputadas em locais tão diferentes, com logísticas por vezes muito complicadas tudo foi feito para que nos pudéssemos, acima de tudo, concentrar nas corridas o que foi magnífico. Uma palavra de agradecimento também à Ralliart Itália que colocou à nossa disposição uma excelente máquina e uma equipa que trabalhou sempre de forma muito profissional e empenhada”.
Tal como Rómulo Branco também João Serôdio se sagrou vice-campeão da Taça do Mundo FIA, na classe T2, um sucesso que o enche de alegria e orgulho:
“Acompanho desde há alguns anos o Rómulo Branco. Já tínhamos feito algumas provas internacionais mas a experiência vivida este ano superou tudo aquilo que já tinha vivido até ao momento. O triunfo em Espanha foi naturalmente o que mais me marcou. Vencer numa prova da Taça do Mundo é um momento único que repetimos logo de seguida. Gostaríamos de ter vencido na Baja de Portalegre, mas tal não foi possível. Marcou-me também muito as provas de deserto. Foi uma experiência fabulosa. De dia para dia tentávamos fazer melhor com o que tínhamos aprendido na véspera. Preparei-me da forma que me pareceu mais indicada mas a maior aprendizagem é no terreno e saber que estávamos a conseguir superar todas as dificuldades e a crescer de etapa para etapa foi indiscritível”, salienta João Serôdio.
Para o final deste mês de Novembro está agendada a participação de Rómulo Branco na tradicional corrida de resistência das 24 Horas TT Vila de Fronteira, mas o piloto estuda já projetos para a temporada de 2014.