domingo, 17 de janeiro de 2010

Futuro poder ser com esta equipa


Um dia depois de terminar o Dakar 2010 com uma fantástica vitória na especial de encerramento, que lhe valeu ser o único piloto português a vencer nesta edição do Dakar, Ruben Faria faz um primeiro balanço da prova, onde ajudou Cyril Despres a vencer pela terceira vez.

‘Claro que o balanço é positivo. Vim para este Dakar com o objectivo de ajudar o Cyril a vencer e isso foi conseguido. Durante quinze dias fomos nove pessoas a trabalhar com esse objectivo e o facto de estarmos no comando desde a terceira etapa mostra que o trabalho foi bem feito. Naturalmente que o mais importante foi o trabalho feito antes da prova, que ajudou a que tudo estivesse nas melhores condições para podermos atingir o objectivo a que nos propusémos.’

Um trabalho em termos de preparação da moto e de todos os meios necessários para vencer?

‘Sim. A moto foi preparada em termos de motor pela KTM, de forma a manter-se competitiva mesmo com o restrictor que teve ser colocado por força dos regulamentos. Mas a equipa, e especialmente o Cyril, trabalhou muito ao longo do ano 2009 no desenvolvimento dos novos pneus da Michelin que equiparam as nossas motos na prova. E ao contrário da concorrência, não sentimos qualquer problemas com eles e nem mesmo no dia em que o Cyril teve problemas com a suspensão dianteira ou quando tivemos que trocar as rodas das motos os pneus se queixaram, o que já não se pode dizer da concorrência, com todas as incidências que conhecemos.’

Crês mesmo que o Marc Coma trocou de roda?

‘Não quero alimentar essa questão. A organização encontrou provas para o penalizar e temos que aceitar isso.’

E como foi para ti, cumprires o papel de ‘mochileiro’?
‘Já tanto se falou sobre isso. Nos últimos anos quem foi o piloto que venceu a prova sem ter um ‘mochileiro’? Talvez apenas o Cyril quando ficou sem o Verhoeven e o Meoni nas provas africanas. O Marc Coma sempre teve ajuda, o Peterhansel sempre teve alguém atrás de si, como o Magnaldi ou o Castera. Para mim ter esta possibilidade foi acima de tudo uma grande escola, aprendi bastante ao estar ao lado do Cyril neste Dakar e não me afectou em nada estar em prova como segundo piloto. Fiz um Dakar bastante tranquilo, sem arriscar em demasia e sem qualquer pressão. Apenas tive que cumprir com o meu objectivo na prova e penso que isso foi perfeitamente alcançado. A vitória na derradeira especial foi como que uma prenda que recebi, depois do Cyril me ter dito na noite anterior que podia ir à luta pelo 11º lugar.’

Ele não precisava de ti na última especial?
‘Se ele tivesse problemas naturalmente que iría parar para o ajudar. Mas ele saíu muito antes de mim, por isso estava tudo controlado.’

Mas para quem precisava de ganhar 58 segundos ao Berglund acabaste por voar baixinho.

‘Tinha que ser. A especial era muito rápida, mesmo como gosto e a 690 continua a ser a moto mais veloz do plantel, como se viu ao longo da prova. Senti-me bastante à vontade e no final fiquei mesmo surpreendido quando vi que estavam todos à minha espera par aver quem tinha ganho.’

Não podias ter fechado a prova de melhor forma.
‘Acho que era impossível. O Cyril ganhou o Dakar pela terceira vez e eu venci a última especial. Ele estava quase tão feliz quanto eu. Foi espectacular.’

Muito se falou da maior competitividade das 450 face ás 690. Sentis-te isso?
'As 450 conseguiram ser mais eficazes do que anteriormente, mas não são ainda tão rápidas como as motos maiores especialmente quando é preciso andar mesmo depressa. Mas estão mais perto, sem dúvida, mesmo se a 690 continua a ser a raínha.’

Depois deste resultado, o teu futuro passa por continuares com o Cyril?

‘Neste momento é prematuro podermos pensar já no futuro. O Cyril ainda da prova falou-me nisso, mas deixei essas decisões para depois deste Dakar. Sinto-me bem com a equipa e penso que eles gostaram do meu trabalho, pelo menos o Cyril já o afirmou publicamente mais do que uma vez. Mas em breve irei naturalmente anunciar se vou continuar com a equipa ou se altero os meus planos para o ano de 2010. Quero fazer mais provas internacionais, e é isso que vou procurar na hora de tomar decisões.’

E quanto ao regresso do Dakar a África? Pensas que é possível?
‘Fala-se da eventualidade do regresso a África, mas neste momento nada está anunciado. Penso que lá para o final deste mês teremos novidades, mas por mim pode ser aqui ou em África. Adorei este Dakar em termos de paisagens e pistas, o Atacama é um deserto espectacular, tão exigente e bonito como a Mauritânia. E aqui na América do Sul nunca se fala em problemas de segurança, que ditaram a anulação do Dakar em 2008. Logo veremos.’

Ruben Faria regressa a Portugal amanhã, chegando a Olhão na terça-feira.